O chão lavado com sangue... algemas, dores e berros,
O estalar do açoite dia após dia, noite após noite...
Nos lamentos da senzala só ultraje e pavor,
No estalar da chibata só desonra e clamor
Amarrados ao tronco, arrancados de casa,
Marcados na carne com ferros em brasa...
O sangue de um povo infeliz, que jorrou nesse país
O sangue negro que a escravidão encerra
Escorrendo pelo chão, adubando vossa terra...
Aqui, nossa gente está plantada com nosso sangue e suor
E com vossas chibatadas!
Grande foi a nossa contribuição para essa enorme nação que se chama Brasil:
Milho, feijão, cacau e café...
Ouro, prata, açúcar e algodão...
E a música brasileira também tem a nossa contribuição:
Coco, batucada e capoeira ...
Samba, bate-coxa e candomblé...
Maracatu, zabumba e a zoeira do agogô e do afoxé...
Umbigada, maracatu, lundu...
Jongo e o jogo de caxambu...
E na Língua Portuguesa nossa herança é presente, com certeza:
Bobó, cachaça e cafuné...
Inhame, mandinga e acarajé...
Quiabo, senzala e angu...
Cuxá, dendê e caruru...
Papagaio, sinhá e patuá...
Tanga, moqueca e vatapá...
Onde está a liberdade tão apregoada? Pura enganação?
E o negro acorrentado continua massacrado
Em troncos e porões...
Almas lanhadas pelas ruas do país
Indignados lutam contra a opressão
Aguardando o verdadeiro canto da tão sonhada abolição
Princesa, redentora Isabel,
o fim da escravatura até hoje não se fez, ó criatura!
Exclusão econômica, discriminação sem igual,
Ainda hoje, essa tal alforria não nos deu o direito de igual cidadania.
Cadê a tão sonhada liberdade,
E a tão prometida igualdade social?
De Maria da Graça Bergamini Gusmão
Volta Redonda - RJ
Corre em minhas veias
O afro-brasileiro
A áurea abolicionista
Da senzala do navio negreiro
Ser negro é ser forte
É enfrentar o passado, escravidão
Do chicote
Do morão
Ser negro é capoeira, é progredir
Ser guerreiro ser zumbi
Ser negro é ser perfeito
O defeito está no preconceito
Ser negro não está só na escuridão
Está no sangue
Está na alma
Está no coração.
De Juscelino Lima Santana
Barreiros - Riação do Jacuípe - BA
O povo negro muito já sofreu
Uns ainda continuam sofrendo
Preconceitos, discriminação
Por gente ignorante, ateu
Pessoas desumanas, sem coração.
A negritude não é um defeito
É apenas uma das milhões de cores
Que deus coloriu o mundo
Nessas cores, não há jeito que dê jeito
Só o preto é que dá o retoque final
A toda a beleza natural
Do paraíso que foi feito.
Liberdade de fachada
Não é o que se quer
Queremos mesmo é ser livres
Como deus determinou
Amar e ser amados
Pelos irmãos de outra cor
Viver em paz, sem discórdia
Num mundo de sonhos e de amor.
De Maria Dionésia Santos da Silva
Santa Cruz do Piauí - PI
Pelourinho, grilhões, corrente,
Tronco, chicote e senzala
Palavras que para os negros,
Faziam perder a fala
Cem anos já se passaram
Desde o fim do pesadelo
Mas o sonho continua,
Por isto fiz este apelo.
Sonhava o negro ser livre
E veio a lei no papel,
Que lhe fora outorgada
Pela princesa Isabel.
O negro até hoje vive
O sonho da liberdade,
Porque falta em nossa gente
O dom da fraternidade.
Seguindo os ensinamentos
De Jesus o redentor,
Devemos todos amar-nos
Sem preconceito de cor.
Por isso é que brasileiros
Deste céu azul anil,
Comemoremos cem anos
Sem escravos no Brasil.
de Joelson Araújo Matos
Itabuna - BA
Negro Aroeira
(Canto da Abolição)
Sou madeira de dar em doido,
Sou cerne de aroeira...
Sou barranco, aguento o tranco,
Do balanço da peneira...
Sou como peão do trecho,
Sou seda, não sou molambo...
Sou negro, sou forte, sou bravo,
Conheço bem um quilombo...
Faço renda, faço arte,
Danço, jogo capoeira...
Sou de samba, sou de bola,
Sou cerne de aroeira...
Nas contas do meu rosário,
Eu exalto a minha fé...
Ao som do meu atabaque,
Negro joga “cangapé”...
Olho gordo não me ofende,
Curo cobreiro e quebranto...
Quando toco o meu berimbau,
Tristeza para longe espanto...
O negror da minha pele,
Não muda meu proceder...
Pois eu amo e sou amado,
Também tenho um bem-querer.
De João Beltrão Filho
Campos Belos - GO